Mulheres ganham, em média, 20,7% menos que os homens em mais de 50 mil empresas brasileiras com 100 ou mais funcionários, segundo o 2º Relatório de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, divulgado nesta quarta-feira (18) pelos ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego (MTE). O estudo, baseado em dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2023, revela que a desigualdade salarial aumentou em relação ao primeiro relatório, publicado em março, que apontava uma diferença de 19,4%.
De acordo com o Ministério das Mulheres, o crescimento da disparidade está relacionado à criação de novos postos de trabalho no ano passado, com 369 mil vagas formais ocupadas por homens e 316 mil por mulheres.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, enfatizou que a igualdade salarial entre gêneros é uma prioridade do governo e está em discussão em fóruns internacionais, como o G20 e a ONU. "As mulheres não são complementos, são trabalhadoras que sustentam suas famílias e precisam estar no centro do debate econômico", afirmou.
O relatório destaca uma disparidade ainda maior para mulheres negras, que ganham, em média, metade (50,2%) do salário de homens não negros. Em 2023, o salário médio de uma mulher negra foi de R$ 2.745,26, enquanto os homens não negros recebiam R$ 5.464,29. Mulheres não negras ganhavam, em média, R$ 4.249,71.
Outro dado alarmante é que nas empresas com 100 ou mais empregados, 53% dos estabelecimentos não tinham ao menos três mulheres em cargos de direção ou gerência. Além disso, em 31% dessas empresas, a diferença salarial entre homens e mulheres era de apenas 5%, indicando que a desigualdade varia bastante entre as organizações.
Nos cargos de direção e gerência, as mulheres recebem, em média, 27% menos que os homens. Entre profissionais de nível superior, a disparidade salarial sobe para 31,2%. O relatório também aponta que 42,7% das empresas têm entre 0% e 10% de mulheres pretas ou pardas entre seus funcionários.
Divulgado no Dia Internacional da Igualdade Salarial, instituído pela ONU em 2019, o relatório destaca a necessidade de acelerar o combate à desigualdade de gênero. A ONU alerta que, no ritmo atual, serão necessários 300 anos para alcançar a igualdade de gênero globalmente.
Ana Carolina Querino, representante da ONU Mulheres no Brasil, lembrou que o empoderamento de mulheres e meninas é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. "A desigualdade salarial reflete as barreiras estruturais e a violência enfrentada pelas mulheres em todos os aspectos da vida pública", destacou.
A secretária-executiva adjunta do MTE, Luciana Nakamura, ressaltou que a legislação brasileira já prevê a igualdade salarial desde a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943, mas que a nova Lei da Igualdade Salarial busca conscientizar as empresas sobre a necessidade de promover um ambiente mais igualitário.