A inflação no Brasil segue como um dos principais desafios econômicos. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 4,76%, mesmo sob a vigência de uma política monetária restritiva. O Banco Central prepara-se para a última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do ano, marcada para os dias 10 e 11 de dezembro, com expectativa de nova elevação da taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano.
Apesar dos esforços para conter a alta de preços, analistas apontam para a necessidade de coordenação entre as políticas fiscal e monetária. O professor de economia da USP, Simão Silber, alerta que o aumento dos gastos públicos em um cenário de economia aquecida pode intensificar a pressão inflacionária. “É como jogar gasolina na fogueira da inflação”, afirma o especialista, destacando a urgência de controle sobre despesas em meio a um crescimento econômico acima do potencial e uma taxa de desemprego baixa.
No âmbito internacional, mudanças políticas e econômicas nos Estados Unidos, como o retorno de Donald Trump à presidência e suas políticas protecionistas, podem fortalecer o dólar e aumentar a volatilidade de moedas emergentes como o real, agravando o cenário inflacionário doméstico.
O novo arcabouço fiscal, aprovado no ano passado, tem sido alvo de críticas por sua limitada eficácia no atual contexto. Silber foi enfático: “O arcabouço morreu. Não tem efeito nenhum”. Para ele, reformas estruturais, como as administrativas e previdenciárias, são indispensáveis para garantir um ajuste sustentável nas contas públicas.
O desafio do governo é equilibrar a necessidade de controle fiscal com a manutenção de programas sociais essenciais. Segundo o economista, 97% da receita tributária já possuem destinação constitucional, restringindo a margem para cortes significativos e exigindo negociações com o Congresso e o Judiciário para conter a expansão de gastos obrigatórios.
No curto prazo, o mercado projeta que o Copom deve elevar a taxa Selic para 11,75% ao ano na tentativa de desacelerar a demanda agregada. No entanto, Silber alerta para a inconsistência entre as políticas fiscal e monetária.
Para 2025, as pressões inflacionárias internas e externas continuarão a exigir maior coordenação entre essas políticas. “Evitar o crescimento das despesas e promover reformas estruturais será crucial para superar os desafios econômicos do país nos próximos anos”, conclui o economista.