|
Hoje é Quarta-feira, 29 de Outubro de 2025.
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da China, Xi Jinping, em reunião bilateral em 2019. — Foto: REUTERS/Kevin Lamarque/Foto de arquivo
Por: Editorial | 12/04/2025 10:58
De um lado, o maior governo comunista do mundo defendendo o multilateralismo e a "globalização econômica", enquanto investe em novas parcerias. Do outro, o país símbolo do capitalismo, apontando para o isolacionismo comercial.
Além de gerar volatilidade nos mercados globais, a guerra tarifária entre os Estados Unidos e a China pode estar redesenhando a geopolítica mundial. Ao longo da semana, com os aumentos recíprocos de tarifas, o governo chinês insistiu que a política tarifária de Donald Trump apenas isolará Washington, enquanto Pequim se dedica a "conectar mercados", como os da África, América Latina e Europa.
Desde o início de seu segundo mandato, em dezembro, Trump tem adotado medidas que afastam mercados e cidadãos estrangeiros, ao mesmo tempo em que intensifica as políticas protecionistas, como o aumento das tarifas. Para o professor de Relações Internacionais da ESPM, Gustavo Uebel, especialista em geopolítica, essa é uma estratégia do líder norte-americano para impor suas regras no cenário global.
"Essa é uma forma de Trump buscar mudanças geopolíticas sem recorrer a guerras ou à diplomacia internacional", explica Uebel.
Por sua vez, o presidente chinês, Xi Jinping, se pronunciou sobre a guerra tarifária na sexta-feira (11), defendendo que o mundo se esforce para "preservar a globalização econômica e resistir ao unilateralismo e à intimidação".
Uebel acredita que Xi continuará a investir em parcerias globais, pois essa é a única maneira de alimentar e manter a economia chinesa.
No entanto, segundo o professor, a disputa entre Putin e Xi pode provocar a fragmentação da multipolaridade que caracteriza a geopolítica atual. O futuro pode indicar três grandes zonas de influência: EUA, China e Rússia. "Isso pode ser uma mudança no regime internacional a longo prazo, mas já está se desenhando", afirmou Uebel.
Em fevereiro, a revista The Economist descreveu a política de Trump como "mafiosa". O artigo sugeria que Trump estava criando um novo equilíbrio de poder mundial, rompendo com a "era pós-1945", que se iniciou com o fim da Segunda Guerra Mundial, e estabelecendo um modo de resolução de conflitos "ao estilo de Don Corleone", o famoso mafioso do filme O Poderoso Chefão. "O mundo está rapidamente se encaminhando para uma realidade onde os poderosos fazem o que querem e as grandes potências impõem acordos às menores", dizia a publicação.
Na nova configuração mundial, a União Europeia, pressionada pelos Estados Unidos e envolvida em uma guerra indireta contra a Rússia na Ucrânia, já começa a considerar uma aproximação com a China. Na sexta-feira, Xi Jinping se encontrou com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, e pediu que a União Europeia se unisse a Pequim para resistir ao tarifaço de Trump.
De acordo com Uebel, a tendência é que os europeus, principais prejudicados pela guerra tarifária, se aproximem cada vez mais da China. "Pela primeira vez, a União Europeia não está ditando as regras do jogo na geopolítica global. Eles se aliarão à China por exclusão", afirmou.
Além disso, o governo chinês também busca ampliar sua influência na América Latina, uma área tradicionalmente dominada pelos Estados Unidos. Na sexta-feira, o ministro do Comércio da China conversou por telefone com o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin. A conversa, solicitada pelo governo chinês, focou no fortalecimento de organismos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), um dos pilares da globalização. Com informações G1.
