| Hoje é Quinta-feira, 21 de Agosto de 2025.

Avanço da soja devasta vegetação e ameaça rios em Bonito (MS)


Destino símbolo do ecoturismo nacional já perdeu 90 mil hectares de vegetação nativa desde 1985; desmatamento e drenagens secam rios e afetam biodiversidade.
Águas cristalinas do Rio da Prata, em Bonito (MS), agora sofrem com turvação e trechos secos causados por desmatamento e expansão agrícola. Foto: Reprodução. Por: Editorial | 26/05/2025 07:41

Bonito (MS) — Um dos principais destinos de turismo ecológico do Brasil, Bonito está perdendo rapidamente a vegetação nativa que compõe seu cartão-postal. Entre 1985 e 2023, foram devastados 90 mil hectares de áreas verdes, o equivalente a cerca de 126 mil campos de futebol, segundo relatório conjunto de seis instituições ambientais. A principal causa: o avanço desenfreado da soja e das pastagens sobre áreas de floresta, especialmente entre 2019 e 2023, período em que mais de 5.600 hectares foram desmatados.

A bacia hidrográfica do Rio Miranda, que cobre 94% do território de Bonito, passou de 0,4% de área com soja em 1985 para impressionantes 7% em 2023 — o que representa cerca de 300 mil hectares de cultivo. O estudo abrange uma área de 42 mil km² e mostra que, nesse intervalo de quase 40 anos, a cobertura florestal caiu de 39% para 26%.

O impacto é direto sobre o ecossistema e a economia local. Bonito depende do ecoturismo, que representa 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do município, conforme dados do IBGE. Mas os rios que antes atraíam turistas pela água transparente agora apresentam trechos turvos, secos ou assoreados.

“Trechos que eram cristalinos hoje ficam turvos na época das chuvas. Rios que tinham fundo rochoso estão arenosos. Há córregos que simplesmente deixaram de voltar após o período seco”, relata o biólogo Guilherme Dalponti, da Fundação Neotrópica do Brasil.

As consequências da exploração intensiva do solo são ampliadas por práticas ilegais, como a abertura de drenos para escoar água de nascentes. Em 2018, o Rio da Prata ficou tomado por lama após 46 km de drenagens serem escavados ilegalmente. As multas aplicadas, que somavam R$ 16,8 milhões, foram suspensas pelo desembargador Alexandre Bastos, que também arquivou as 12 ações relacionadas — ele foi afastado do cargo no ano passado e é investigado por venda de sentenças.

Dalponti destaca que a fragilidade geológica da região, composta por calcário, agrava os impactos das enxurradas causadas pelo desmatamento. Além disso, lembra que tentativas de criar novas unidades de conservação nas nascentes dos rios da Prata e Formoso foram barradas por pressão do setor rural.

Para piorar, o desmatamento na região da Mata Atlântica ocorre com apenas um licenciamento on-line, sem vistoria. Em 2022, a Fundação Neotrópica detectou pela primeira vez vestígios de agrotóxicos nos rios. Exames mostraram presença de nitrogênio e fósforo, provenientes de adubos químicos e esgoto doméstico.

As entidades responsáveis pelo estudo recomendam a implantação de um Zoneamento Ecológico-Econômico, além do cumprimento rigoroso da legislação ambiental, como forma de frear a destruição. Órgãos públicos citados no documento não responderam aos pedidos de esclarecimento. Enquanto isso, Bonito corre o risco de perder justamente o que o torna único: sua natureza exuberante. Com informações: Oglobo.




Diário do Interior MS
NAVIRAÍ MS
CNPJ: 30.035.215/0001-09
E-MAIL: diariodointeriorms1@gmail.com
Siga-nos nas redes Sociais: