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Agroindústria na Ilha das Cinzas transforma extrativismo e eleva renda de famílias da Amazônia


Nova unidade beneficia frutos amazônicos para cosméticos, opera com energia solar e pode aumentar em até 60% a renda de extrativistas da região do Marajó e do Amapá.
Francisco e Josi Malheiros, irmãos fundadores da Ataic, celebram a inauguração da agroindústria que marca uma nova era para as comunidades de várzea – Foto: Anderson Águia/Natura/WEG. Por: Editorial | 31/05/2025 08:57

Às margens do Rio Amazonas, onde o verde da floresta abraça as palafitas das comunidades ribeirinhas, uma construção se destaca na Ilha das Cinzas, no Pará. Trata-se da primeira agroindústria amazônica instalada em uma área de várzea e movida totalmente a energia solar. A unidade, inaugurada no último sábado (24), irá beneficiar frutos como murumuru, ucuuba e patauá, utilizados na produção de cosméticos, com potencial de elevar em até 60% a renda das famílias extrativistas.

A iniciativa é liderada pela Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (Ataic), fundada há 25 anos por jovens como Josi Malheiros, então com 16 anos, e hoje presidida por seu irmão Francisco. Durante a inauguração, os dois emocionaram convidados que chegaram de barco, simbolizando a conquista de uma geração que apostou na floresta em pé como caminho de desenvolvimento.

Antes dedicada à pesca de camarão, a Ataic expandiu sua atuação para a coleta de frutos amazônicos, fortalecendo parcerias com empresas como a Natura, que passou a comprar os bioativos para uso em cosméticos. Com o crescimento da demanda, a agroindústria se tornou realidade, operando com tecnologia de ponta e sustentabilidade: a energia vem de placas solares conectadas a baterias de armazenamento, dispensando o uso contínuo de geradores a diesel.

“Antes, a gente vendia madeira de ucuuba por quase nada para fazer cabo de vassoura. Agora vendemos as sementes para produzir óleo, com muito mais valor”, explica Josi. A mudança de paradigma trouxe não só renda, mas melhorias concretas para a vida das famílias: energia elétrica, água tratada, máquinas de lavar, batedeiras de açaí e mais tempo livre, especialmente para as mulheres.

Hoje, a Ataic reúne quase 450 famílias em comunidades de Gurupá, Afuá, Chaves, Breves e Anajás, no Pará, e em Mazagão, no Amapá. Com a nova unidade, a meta é dobrar esse número nos próximos anos. “Mais renda, mais dignidade. Esse é o sonho”, resume Francisco.

Além do impacto econômico e ambiental, a agroindústria serve de modelo para outras regiões isoladas da Amazônia. “É um exemplo de como levar bem-estar, tecnologia nacional e geração de valor aos territórios mais remotos”, afirmou o secretário de Economia Verde, Rodrigo Rollemberg. O projeto conta ainda com o apoio da Weg, que forneceu o sistema de energia, e da W-energy, responsável pela instalação dos equipamentos.

O modelo é inovador até na logística: os equipamentos percorreram um complexo trajeto fluvial, desde Santa Catarina até os galpões da Ilha das Cinzas, sendo transportados com cuidado sobre toras de madeira. “Não é só uma agroindústria. É um modelo de vida que respeita e valoriza quem vive na floresta”, disse Josi, reafirmando a necessidade de políticas públicas voltadas às comunidades de várzea, frequentemente esquecidas no planejamento da Amazônia.

Com energia limpa, protagonismo local e biodiversidade como fonte de renda, a Ilha das Cinzas mostra que é possível avançar preservando – e que, sim, na floresta tem gente. Com informações: Agência Brasil.

 

 



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