Mato Grosso do Sul está entre os estados com mais mortes no trânsito causadas por álcool, aponta pesquisa

Mato Grosso do Sul figura entre os cinco estados brasileiros com maior número de mortes no trânsito relacionadas ao consumo de álcool. De acordo com levantamento do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), com base em dados do DataSUS, o estado registrou, em 2023, uma taxa de 8,5 óbitos por 100 mil habitantes em acidentes de trânsito atribuíveis à embriaguez.

A taxa coloca o estado em quinto lugar no país, ficando atrás apenas de Tocantins (12,8), Mato Grosso (11,5), Piauí (10,8) e Rondônia (10,5). A média nacional é de 5,7 óbitos por 100 mil habitantes. Apenas nove unidades da Federação estão abaixo desse índice.

O estudo também mostrou que Mato Grosso do Sul ocupa o terceiro lugar em internações hospitalares por acidentes de trânsito envolvendo álcool, com 62,5 casos a cada 100 mil habitantes — atrás de Piauí (85,2) e Espírito Santo (72,7).

Entre 2021 e 2023, o número de mortes relacionadas à combinação de álcool e direção cresceu 9% no estado, passando de uma taxa de 7,8 para 8,5 mortes por 100 mil habitantes.

Impacto na saúde pública

A superlotação da Santa Casa de Campo Grande, o maior hospital de Mato Grosso do Sul, é reflexo direto desse cenário. Somente entre janeiro e abril de 2024, a unidade atendeu 8.803 vítimas de acidentes de trânsito. No total, o hospital registrou 33.335 atendimentos relacionados a acidentes neste ano, com destaque para colisões entre carros e motos (1.927 casos) e acidentes envolvendo apenas motocicletas (397 casos).

A alta demanda levou à suspensão de cirurgias eletivas, agravando ainda mais a crise no sistema público de saúde. Para o médico emergencista Rodrigo Quadros, cada caso impacta o funcionamento do hospital: “Acidentes graves podem resultar em morte, internações prolongadas, cirurgias complexas e até sequelas irreversíveis.”

Perfil das vítimas

A pesquisa do Cisa revelou que os homens representam 87% das vítimas fatais em acidentes envolvendo álcool no trânsito. As faixas etárias mais atingidas são de 35 a 54 anos (35%) e de 18 a 34 anos (34,3%).

Apesar da taxa nacional de mortes ter apresentado uma queda de 23,6% entre 2010 e 2023, o índice segue estável desde 2018, oscilando em variações decimais. Em 2023, o país registrou 12.310 mortes no trânsito relacionadas ao álcool — 3% a mais que no ano anterior.

O presidente do Cisa, psiquiatra Arthur Guerra, ressaltou que o Brasil é um dos poucos países com tolerância zero ao álcool na direção. Segundo ele, “a Lei Seca vem salvando vidas, mas é preciso olhar para os dados regionais e propor soluções específicas”.

O Cisa reforça que mesmo pequenas doses de álcool afetam a percepção de risco, o reflexo e a capacidade de reação, aumentando as chances de acidentes graves.