“Ele só queria saber quem era o pai.” O pedido simples, mas carregado de emoção, chegou ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) por meio de um processo de investigação de paternidade. Criado apenas com o nome da mãe, um adolescente aguardava havia anos por uma resposta definitiva. A Justiça autorizou a investigação, e o exame foi encaminhado à Polícia Científica do Estado — sem qualquer custo para a família.
O teste foi conduzido pelo IALF (Instituto de Análises Laboratoriais Forenses), unidade especializada em exames genéticos. Silenciosamente, com base em critérios científicos rigorosos, o laudo revelou o vínculo biológico e encerrou uma longa espera judicial. Casos como esse são mais frequentes do que se imagina.
De 2014 a 2024, a Polícia Científica de Mato Grosso do Sul emitiu 1.858 laudos periciais em processos cíveis relacionados à investigação de vínculos biológicos — a maioria deles para confirmação de paternidade ou maternidade.
“Esse trabalho só é possível graças a uma política pública consolidada desde 1998, que garante acesso gratuito ao exame de DNA para pessoas que têm direito à justiça gratuita, mediante autorização judicial”, explica a perita criminal Josemirtes Prado da Silva, diretora do IALF.
Segundo ela, o juiz responsável pela ação verifica se a parte tem direito à gratuidade. Aprovado o pedido, o exame é feito com total rigor técnico. A diretora destaca ainda os avanços tecnológicos na área: “Hoje contamos com mais marcadores genéticos, novas técnicas de extração de DNA e informatização dos laudos, seguindo normas internacionais”.
Mas, mais do que precisão técnica, o impacto humano é o que mais marca os profissionais envolvidos. “O laudo pericial vai além da ciência. Ele encerra disputas judiciais, assegura direitos como pensão alimentícia e, sobretudo, permite o reconhecimento legal e afetivo da paternidade”, reforça Josemirtes.
Os peritos já testemunharam reencontros emocionantes entre pais e filhos após anos — ou até décadas — de separação. “Esses momentos mostram o valor do que fazemos”, diz a diretora.
A atuação do Instituto também abrange casos em que o suposto pai já faleceu. “Tivemos situações em que o único material disponível era ósseo, obtido por exumação. Ainda assim, conseguimos dar uma resposta definitiva”, relembra.
O trabalho da Polícia Científica é, portanto, mais do que técnico: é essencial para garantir um direito fundamental — o de conhecer as próprias origens. Como conclui a perita, “não se trata apenas de um exame, mas de oferecer a cada pessoa o direito de saber de onde veio”.Com informações: Agência de Notícias.