O rádio estava ligado quando Rogério Santos da Silva ouviu, pela primeira vez, sobre o serviço Família Acolhedora. Ele e a esposa, que já costumavam ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade, não imaginavam que aquela notícia daria novo sentido à missão que já exerciam informalmente.
Incentivados por uma cunhada, decidiram se cadastrar no programa da Prefeitura de Dourados. O que poderia ter sido apenas uma experiência, tornou-se uma jornada de sete anos oferecendo proteção, cuidado e afeto a crianças e adolescentes afastados de suas famílias por decisão judicial.
Entre os primeiros a integrar o serviço no município, o casal acolheu sete crianças ao longo dos anos — vítimas de abuso sexual, abandono, dependência química ou traumas severos. “São crianças que precisam de um cuidado especial. A gente aprende a amar essas crianças e tenta curar algo nelas”, explica Rogério.
O primeiro acolhimento foi desafiador: uma adolescente indígena de 15 anos, com transtornos psicológicos graves. “Foi uma prova de fogo. Mas não desistimos, porque entendemos a importância desse cuidado”, conta.
Em outro caso, o casal recebeu um bebê com apenas quatro dias de vida. “O umbiguinho dele ficou na minha mão enquanto eu o trocava”, relembra emocionado. A criança foi retirada da mãe ainda na maternidade, por conta do risco à sua integridade.
Embora a despedida de cada acolhido seja dolorosa, Rogério acredita que o amor dedicado, mesmo que temporário, transforma. “A gente sofre bastante, mas é uma missão. E somos felizes em ver como podemos mudar o futuro dessas crianças.”
Uma dessas histórias emocionantes é a de um menino de 10 anos, dependente de drogas. Mesmo após desistir do acolhimento, foi adotado por outra família e hoje é jogador de futebol. “É uma bênção. Ver como ele está hoje mostra que valeu a pena”, diz.
Apesar do impacto profundo, Rogério lembra que acolher não é o mesmo que adotar. O serviço é temporário e tem como objetivo oferecer um ambiente seguro até que a criança possa retornar à sua família ou ser adotada por outra. “As pessoas têm medo da separação, mas esquecem o quanto podem mudar a vida de uma criança”, afirma.
Atualmente, Dourados conta com apenas três famílias ativas no serviço, o que limita a capacidade de atendimento. A ampliação depende de novas adesões, e Rogério deixa seu apelo: “É diferente de um abrigo coletivo. Aqui é uma família. Acolher é transformar, mesmo que por um tempo, a vida de alguém.”Com informações: Dourados News.