A insatisfação entre prefeitos de Mato Grosso do Sul que dependem da oferta de especialidades médicas de urgência cresce a cada dia e escancara o desgaste provocado pela morosidade e pela falta de clareza nos critérios de regulação de vagas. O epicentro da crítica mais recente veio de Ivinhema, onde o prefeito Juliano Ferro utilizou as redes sociais para protestar contra o que classifica como omissão do Estado, denunciando um cenário de descaso com a saúde pública.
Segundo o prefeito, o hospital municipal está à beira da paralisação devido à ausência de repasses acordados com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MS). Desde fevereiro, o município aguarda o pagamento de R$ 4,5 milhões. O valor, conforme Juliano, é essencial para garantir o funcionamento dos serviços básicos da unidade hospitalar.
Durante uma transmissão ao vivo feita nas dependências do hospital, o gestor exibiu a situação de pacientes que aguardam há semanas por cirurgias de alta complexidade. Entre os casos, estão o de um idoso de 85 anos com fratura na bacia e o de uma mulher com o fêmur quebrado, ambos internados sem qualquer previsão de transferência. As situações evidenciam a fragilidade do atual sistema de regulação estadual.
“Estão empurrando para os municípios uma responsabilidade que é do Estado. A central de regulação ignora a gravidade dos casos e mantém pacientes em sofrimento por dias. A população não pode ser penalizada por critérios obscuros que atrasam o atendimento de quem precisa de urgência”, declarou o prefeito.
Juliano Ferro relatou ainda que solicitou a transferência de pacientes para Dourados, mas recebeu como resposta que os casos não eram considerados de alta complexidade, apesar da gravidade clínica. Em seguida, pediu encaminhamento para o hospital de Nova Andradina, mas foi informado que a unidade está sem materiais e insumos, e que os itens necessários estão em processo de licitação.
O problema, no entanto, vai além das fronteiras de Ivinhema. De acordo com o próprio gestor, mais de 20 prefeitos já o procuraram para relatar situações semelhantes, mas evitam exposição pública. A lentidão na liberação de vagas e a ausência de contrapartidas financeiras por parte do governo estadual têm se tornado rotina em diversos municípios sul-mato-grossenses.
Em cidades maiores, como Dourados — referência para a região sul do Estado —, a situação também é alarmante. Faltam leitos, e filas de ambulâncias se formam diariamente nas portas dos hospitais, que já não conseguem absorver a demanda.
A central de regulação de vagas, que deveria ser o elo entre o diagnóstico e o tratamento adequado, tem sido apontada por gestores como um gargalo que emperra o funcionamento da rede pública. A ausência de critérios objetivos, a morosidade e a falta de suporte financeiro do Estado alimentam a indignação dos prefeitos.
Juliano Ferro encerrou seu pronunciamento cobrando providências imediatas do Governo do Estado:
“Ou o Estado assume sua parte, ou não teremos alternativa a não ser interromper os serviços. A população não pode continuar sendo refém desse sistema ineficiente.”