A China voltará a comprar grandes volumes de soja dos Estados Unidos nos próximos meses, mesmo sem um acordo comercial específico em vigor. Analistas apontam que, por necessidade, os chineses deverão adquirir entre 15 e 25 milhões de toneladas da oleaginosa norte-americana até o fim de 2025, reacendendo o mercado global e impulsionando as cotações na Bolsa de Chicago, que subiram mais de 1% nesta quarta-feira (16).
Entre junho e início de julho, a China comprou 183 navios de soja — 109 do Brasil e 74 da Argentina — e nenhum dos Estados Unidos, conforme dados da Agrinvest Commodities. Ainda assim, a produção sul-americana não será suficiente para atender toda a demanda chinesa, que deverá importar cerca de 112 milhões de toneladas neste ano. O Brasil deve fornecer cerca de 108 milhões, dos quais 75% têm como destino o país asiático.
"O Brasil ainda não consegue suprir integralmente a necessidade chinesa de soja. A China vai precisar dos EUA, mesmo que não queira", avalia Matheus Pereira, da Pátria Agronegócios. Já Marcos Araújo, também da Agrinvest, reforça que a dependência é inevitável: "Ela não tem como sobreviver só com soja brasileira".
As tarifas impostas pela China ao produto americano têm efeito simbólico quando se trata de importadoras estatais — principais compradoras do grão nos EUA. “É o próprio Estado pagando tarifas ao seu governo”, diz Pereira, destacando que as barreiras comerciais afetam mais o setor privado.
Para Raphael Mandarino, da AgResource Brasil, a pressão geopolítica pode forçar novos acordos: “Com tensões em várias frentes — Índia, Rússia e Ucrânia —, há espaço para que a questão da soja entre em pauta nas negociações internacionais”.
Além disso, o cenário aponta para uma redução no ritmo das importações nas próximas semanas. A China deverá processar menos grão, o que pressiona o farelo e reposiciona a demanda para cobrir a janela entre outubro e janeiro. A eventual dificuldade de encontrar soja brasileira de exportação nesse período reforça a expectativa de compras nos EUA.
A movimentação tem impacto direto sobre o mercado brasileiro. Com os prêmios fortalecidos pela menor oferta local e o dólar ainda pressionado, a demanda chinesa nos EUA pode reaquecer os preços em Chicago, fortalecendo duas das três variáveis que compõem o valor da soja brasileira. Isso pode estimular a comercialização interna e garantir melhores negócios aos produtores no segundo semestre. Com informações: Noticias Agrícolas.