GAZA - Jornalistas da agência de notícias AFP que atuam na Faixa de Gaza afirmam que está cada vez mais difícil cobrir a guerra entre Israel e o Hamas devido à grave escassez de alimentos, a ponto de estarem sem forças "por causa da fome". Em relatos comoventes, redatores, fotógrafos e cinegrafistas palestinos descrevem um cenário de fome extrema, falta de água potável e um crescente esgotamento físico e mental. Essa situação, por vezes, os obriga a reduzir a cobertura do conflito, iniciado em 7 de outubro de 2023.
Em uma nota oficial publicada nesta terça-feira (22), a AFP pediu a Israel que seus militares permitissem a saída de seus profissionais e suas respectivas famílias do território palestino, cujos acessos são controlados pelas forças israelenses. "Não nos restam forças por causa da fome", afirma um dos colaboradores no comunicado.
Em 22 de julho de 2025 — Foto: AFP
A situação reflete um alerta mais amplo feito em junho pela ONU, que denunciou o que classificou como o uso da fome como arma de guerra por parte de Israel, considerando a prática um crime de guerra. Israel, que mantém Gaza sitiada e permite a entrada de ajuda humanitária de forma limitada, acusa o Hamas de desviar a ajuda para revendê-la ou de atirar contra civis que aguardam por ela. No entanto, testemunhas e a Defesa Civil local acusam repetidamente as forças israelenses de atirar contra civis em filas de ajuda.
As forças militares israelenses e o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não responderam imediatamente a um pedido de comentário sobre a declaração da AFP.
Os relatos dos profissionais no terreno são um testemunho da crise humanitária. Bashar Taleb, um dos quatro fotógrafos da AFP selecionados este ano para o Prêmio Pulitzer, vive entre as ruínas de sua casa em Jabaliya al Nazla. "Tive que interromper várias vezes meu trabalho para buscar comida para minha família", conta o jornalista de 35 anos. "Pela primeira vez, me sinto completamente abatido."
Seu colega Omar al Qattaa, também fotógrafo indicado ao Pulitzer, descreve a exaustão física. "Preciso carregar equipamento pesado, andar quilômetros (...) Já não conseguimos chegar aos locais sobre os quais devemos reportar, não nos restam forças por causa da fome", relata.
Khadr al Zanoun, de 45 anos, baseado na Cidade de Gaza, afirma ter perdido 30 quilos desde o início da guerra e menciona desmaios e "fadiga extrema".
Para muitos, a dor da fome supera o medo constante dos bombardeios. "No nosso trabalho, enfrentamos todas as formas possíveis de morte. O medo e a sensação de morte iminente nos acompanham por toda parte", desabafa o fotojornalista Eyad Baba. "No entanto, a dor da fome é mais forte que o medo dos bombardeios. A fome impede de pensar."
A crise se agrava com a falta de dinheiro em espécie e a inflação galopante. Sacar dinheiro pode implicar em taxas de até 45%, enquanto os preços dos alimentos se tornaram proibitivos. "Um quilo de farinha custa entre 100 e 150 shekels israelenses [entre 166 e 249 reais], o que é mais do que conseguimos pagar", lamenta a jornalista Ahlam Afana.
A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) declarou nesta terça-feira que mais de 200 jornalistas morreram em Gaza desde o início do conflito. O cinegrafista Youssef Hassouna, apesar de um "vazio interior profundo" pela perda de colegas e familiares, continua seu trabalho. "Cada imagem que eu capto pode ser o último vestígio de uma vida sepultada sob os escombros", explica.
A exaustão, no entanto, chega a um ponto de ruptura. Zuheir Abu Atileh, de 60 anos, ex-colaborador da AFP, resume o sentimento de desespero: "Prefiro a morte a esta vida. Não nos restam forças, estamos esgotados, estamos desmoronando. Basta." Com informações G1 Mundo