Uma das vozes mais impactantes da imprensa palestina, a jornalista Ruwaida Amer, de 30 anos, descreve em primeira pessoa o horror cotidiano vivido pelos moradores da Faixa de Gaza após meses de cerco total imposto por Israel. Desde março de 2025, o bloqueio resultou na escassez quase total de alimentos e já provoca colapso físico generalizado. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, 86 pessoas morreram por desnutrição — 76 delas eram crianças. Apenas nas últimas 24 horas, foram registradas 18 novas mortes por fome.
A repórter, que vive hoje no campo de refugiados de Khan Younis, onde se abriga com parentes após ser forçada a deixar sua casa, relata cenas diárias de crianças desmaiando de fraqueza, adultos se arrastando por restos de comida e multidões arriscando a vida em busca de farinha. “Não conseguimos mais fazer as coisas mais básicas que pessoas em todo o mundo fazem todos os dias. A fome nos tirou tudo”, escreveu.
A jornalista denuncia que Israel está impondo à população palestina uma política deliberada de extermínio por meio da fome — numa comparação direta ao genocídio cometido no campo de concentração de Auschwitz, durante o nazismo. “Israel construiu seu próprio Auschwitz em Gaza”, afirma.
De acordo com Ruwaida, a situação chegou a um ponto extremo: um quilo de farinha chega a custar R$ 200, e um simples tomate pode ultrapassar R$ 125. Carne, ovos e leite são itens que praticamente desapareceram dos mercados locais. “Sobrevivemos com uma refeição por dia. Geralmente só pão, feito com qualquer farinha que consigamos”, relata. O impacto já afeta grávidas, bebês e idosos com força devastadora.
O bloqueio israelense, que teve início no começo de março e só foi marginalmente flexibilizado no fim de maio, resultou também na paralisação de fornos comunitários, como o do padeiro Abu Hussein, referência no campo. Com gás e eletricidade escassos, famílias inteiras passaram a depender da distribuição humanitária, frequentemente acompanhada de violência e ataques. “Alguns voltaram com sacos de farinha. Outros, mortos”, diz.
No Hospital Nasser, em Khan Younis, onde pacientes já não encontram leite nem tratamento básico, profissionais da saúde realizaram protestos por ajuda internacional urgente. “Não há leite, não há comida. Estão tirando o direito à vida de nossas crianças”, gritou Amina Badir, mãe de uma menina de três anos internada por inanição.
A cada dia, mais palestinos desmaiam nas ruas, como a própria jornalista, que caiu inconsciente enquanto procurava transporte para sua mãe doente. “Estamos todos tentando confortar uns aos outros, nessa fome sem fim.”
A reportagem é um grito por socorro — e um testemunho pungente do que Ruwaida chama de “genocídio por fome”. Com informações: Semana On.