Pelo menos 30 produtores rurais de Mato Grosso do Sul, concentrados nos municípios de Nova Andradina e Angélica, enfrentam prejuízos estimados em R$ 25 milhões após deixarem de receber pela venda de soja à Cerealista Result. A empresa teria solicitado a entrega antecipada da produção antes do fim de abril deste ano, prometendo pagamento até o dia 30 do mesmo mês — o que, até agora, não ocorreu.
Segundo informações obtidas com exclusividade pelo Notícias Agrícolas, o caso da Result acende um alerta no setor. Cresce o número de cerealistas de pequeno porte que operam com pouca transparência e deixam produtores no prejuízo. Apenas cinco agricultores ingressaram com ações judiciais até o momento, mas relatos indicam que o número de afetados já chega a pelo menos 30.
Muitos dos produtores entregaram a soja sem contratos formalizados, confiando em promessas verbais e acordos informais. “A maioria se baseou em notas de compra de insumos e romaneios de recebimento como prova, mas os contratos não foram assinados”, relatou uma fonte sob anonimato.
Ainda mais grave, novos dados revelam que a maioria dos silos da Cerealista Result já está sob alienação fiduciária de uma instituição financeira. Isso significa que, em caso de inadimplência com o banco, os ativos podem ser tomados sem chance da empresa pedir recuperação judicial — alternativa comum para reestruturação de empresas em crise.
O advogado Leandro Marmo, CEO do escritório João Domingos Advogados, alerta para o risco crescente. “Muitas vezes, as cerealistas recebem mais do que conseguem estocar. O produtor entrega o produto, mas o silo já está vendido ou comprometido. O risco de calote aumenta muito”, explica.
Os dados da Serasa Experian mostram um cenário preocupante: o número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio disparou em 2025. Foram 389 solicitações no primeiro trimestre — alta de 21,5% em relação ao trimestre anterior e de 44,6% na comparação anual. Os produtores rurais pessoa física lideraram os pedidos, com 195 casos.
O advogado alerta para práticas ainda mais nocivas: “Já atendemos casos em que a empresa vende os grãos e usa o dinheiro para pagar dívidas com bancos ou agiotas, deixando os produtores na mão. E já vimos consequências trágicas, como suicídio de produtores endividados.”
Marmo explica que os produtores podem acionar a Justiça nas esferas civil e criminal, inclusive com possibilidade de investigação por estelionato. No entanto, encontrar patrimônio da empresa para ressarcimento nem sempre é fácil. “Muitas operam com o mínimo de bens no nome da empresa ou dos sócios. É preciso investigação profunda para identificar possíveis ‘laranjas’”, afirma.
Em MS, casos semelhantes já foram registrados com outras empresas. A Granosul entrou com pedido de recuperação judicial, e a AGM também é acusada de prejuízos na safrinha passada. Diante da instabilidade, especialistas recomendam cautela redobrada ao negociar com cerealistas desconhecidos.
“Por alguns reais a mais na saca, o produtor arrisca tudo. É mais seguro vender para cooperativas ou empresas maiores”, alerta Marmo.
Até o fechamento desta reportagem, a Cerealista Result não respondeu aos contatos feitos por telefone e e-mail. Enquanto isso, os produtores buscam alternativas para tentar reaver os valores e evitar que a crise se agrave ainda mais no campo. Com informações: Notícia Agrícola.