Uma onda de manifestações lideradas por jovens da chamada “Geração Z” tomou as ruas de diversas cidades do Marrocos nos últimos dias, deixando ao menos três mortos, mais de 350 feridos e centenas de presos. Os protestos começaram no fim de setembro e tiveram seu ponto mais crítico na noite de quarta-feira (1º), com confrontos violentos em Rabat, Salé, Tânger, Marrakech e pequenas localidades do sul do país.
(Foto: Mosa'ab Elshamy)
Os manifestantes se posicionam contra os bilhões de dólares destinados à preparação para a Copa do Mundo de 2030, da qual o Marrocos será sede em conjunto com Espanha e Portugal. Eles reivindicam que o governo concentre os investimentos em setores sociais como Saúde e Educação, além de cobrar políticas de geração de emprego — especialmente para os jovens, já que a taxa de desemprego nessa faixa etária ultrapassa 35%.
(Foto: Mosa'ab Elshamy)
Segundo o Ministério do Interior, os confrontos deixaram 354 pessoas feridas, sendo 28 civis e 326 integrantes das forças de segurança. Ao todo, 409 manifestantes foram presos até agora, e pelo menos 193 enfrentarão julgamento sob acusações de incêndio, vandalismo e ataques a policiais.
Os distúrbios mais graves ocorreram em Salé, na região metropolitana da capital Rabat, onde lojas foram saqueadas, veículos incendiados e edifícios atacados. Imagens captadas por agências internacionais mostram policiais disparando gás lacrimogêneo e levando jovens detidos em vans. Em Marrakech, uma delegacia foi incendiada, enquanto em cidades menores como Sidi Bibi e Biougra houve bloqueios de estradas e ataques contra prédios públicos e bancos.
Apesar da violência registrada, em cidades como Casablanca, Oujda e Taza os protestos seguiram pacíficos, com manifestantes carregando cartazes pedindo o fim da corrupção e a renúncia do primeiro-ministro.
As mobilizações foram articuladas principalmente pela internet, sob o nome “GenZ 212”, grupo sem liderança definida que reúne jovens de 16 a 30 anos. Inspirado em protestos juvenis ocorridos em países da Ásia e da América Latina, o movimento cresceu rapidamente: em apenas uma semana, o número de membros no servidor do Discord saltou de três mil para mais de 130 mil.
(Foto: Mosa'ab Elshamy)
O governo marroquino tem reforçado que respeita o direito de protestar, mas dentro dos “limites da legalidade”. O primeiro-ministro pediu calma e afirmou que “o diálogo é a única forma de resolver os problemas”. No entanto, autoridades locais justificaram o uso da força após relatos de tentativas de saque de armamentos por parte de manifestantes em Lqliaa, onde duas mortes foram confirmadas.
A atual onda de protestos é considerada a mais intensa desde os levantes de 2016 e 2017, na região do Rif. Analistas apontam que a crise reflete um cenário de insatisfação crescente entre os jovens, que enfrentam alta taxa de desemprego, salários baixos e precariedade em serviços básicos. Com informações: g1