Uma operação da Polícia Federal desvendou um sofisticado esquema de fraudes em concursos públicos, apelidado de “máfia dos concursos”, que atuava a partir de Patos, no Sertão da Paraíba, com ramificações em diversos estados. Segundo a investigação, o grupo cobrava até R$ 500 mil por vaga e operava como uma estrutura familiar altamente organizada, desafiando a segurança de processos seletivos considerados complexos.
O núcleo da quadrilha era composto por membros de uma mesma família, com destaque para o principal suspeito, ex-policial militar, apontado como articulador central do esquema. Seus familiares desempenhavam funções específicas, desde a coordenação logística das fraudes até a execução técnica das mesmas. Outros suspeitos atuavam como financiadores e facilitadores, incluindo pessoas com histórico de envolvimento em diversos concursos fraudulentos.
Entre os métodos empregados pelo grupo estavam a utilização de pontos eletrônicos implantados cirurgicamente nos candidatos, mensagens codificadas, transmissão antecipada de gabaritos e substituição de candidatos por dublês treinados para realizar provas. A combinação dessas técnicas garantia notas elevadas e gabaritos idênticos, inclusive nos erros.
O esquema envolvia também movimentações financeiras complexas. Pagamentos eram feitos em dinheiro, ouro, veículos e até serviços odontológicos, sendo posteriormente “lavados” por meio de laranjas, compra e venda simulada de imóveis e uso de clínicas como fachadas.
A investigação aponta que servidores públicos, profissionais de saúde e intermediários locais podem ter atuado como facilitadores do esquema, seja recrutando candidatos, instalando os dispositivos eletrônicos ou movimentando recursos financeiros.
O grupo atuou em dezenas de concursos entre 2015 e 2025, incluindo Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Polícias Civil e Militar, universidades federais e concursos nacionais. Em um concurso recente, pelo menos dez pessoas teriam sido beneficiadas diretamente.
A Polícia Federal reuniu provas robustas, como gabaritos idênticos entre candidatos, áudios e mensagens codificadas, movimentações financeiras incompatíveis com renda declarada e indícios de fraudes anteriores. Especialistas da PF compararam a probabilidade de coincidência nos gabaritos à chance de ganhar 19 vezes consecutivas na Mega-Sena.
A Operação Última Fase, deflagrada em 2 de outubro, resultou na prisão preventiva de três suspeitos e no cumprimento de mandados de busca e apreensão. Medidas judiciais impediram a posse dos aprovados fraudulentamente e afastaram servidores suspeitos.
As defesas dos suspeitos negam envolvimento e afirmam que irão provar a inocência de seus clientes, destacando a presunção de inocência e o devido processo legal. Com informações: g1