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Pesquisas recentes mostram que o consumo moderado de café está associado à redução do risco de diversos tipos de câncer. (Foto: Divulgação/Jornal da USP)
Por: Editorial | 27/10/2025 14:01
Por muito tempo, o café, uma das bebidas mais queridas do Brasil e do mundo, foi visto com desconfiança. Acusado de causar úlcera, elevar a pressão arterial e até provocar câncer, ele viveu sob a sombra de suspeitas científicas por décadas. Em 1991, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), chegou a classificá-lo como “possivelmente carcinogênico para humanos”, com base em estudos que sugeriam uma ligação com o câncer de bexiga.
Com o avanço da ciência, no entanto, novas pesquisas derrubaram essas conclusões. Estudos prospectivos — que acompanham pessoas saudáveis ao longo de anos, registrando seus hábitos — mostraram que o consumo de café, na verdade, está associado à redução do risco de vários tipos de câncer. Em 2016, a própria Iarc reviu sua posição e retirou o café da lista de possíveis causadores da doença.
Hoje, as evidências apontam para um efeito protetor. Pesquisas combinando dezenas de estudos revelam que bebedores regulares de café têm, em média, 18% menos risco de desenvolver qualquer tipo de câncer. No caso do câncer de fígado, o efeito é ainda mais expressivo: três a quatro xícaras diárias estão associadas a uma redução de até 40% no risco. Também há indícios de proteção contra o câncer de endométrio, e efeitos positivos, ainda que mais modestos, em tumores colorretais, de próstata e de pele.
O café é uma das bebidas mais complexas quimicamente conhecidas, contendo centenas de compostos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Polifenóis, ácidos clorogênicos e a própria cafeína parecem atuar na redução do estresse oxidativo e na regulação de genes ligados ao desenvolvimento de tumores. No caso do fígado, o café também contribui para a melhora da função hepática e a redução da fibrose, fatores que ajudam a proteger o órgão.
Apesar dos benefícios, o consumo deve ser equilibrado. Bebidas muito quentes podem aumentar o risco de câncer de esôfago devido ao dano térmico, e a cafeína em excesso pode causar insônia, ansiedade e desconforto gastrointestinal. Durante a gravidez, recomenda-se moderação, já que o consumo elevado pode estar associado ao baixo peso do bebê ao nascer.
Os especialistas destacam que o café não é uma cura nem uma “poção anticâncer”, mas pode fazer parte de um estilo de vida saudável, ao lado de alimentação equilibrada e atividade física. O consumo ideal parece estar entre três e quatro xícaras diárias.
Assim, o café passou de acusado a aliado, protagonizando uma verdadeira reviravolta científica. Hoje, além de despertar o corpo e a mente, essa bebida milenar pode ser saboreada com a tranquilidade de quem sabe que, além de prazer, ela traz também benefícios à saúde. Com informações: Campo Grande News
