|
Hoje é Quinta-feira, 27 de Novembro de 2025.
Presidente da Meta, Mark Zuckerberg, durante evento nos Estados Unidos. (Fonte: Reuters/Carlos Barria)
Por: Editorial | 07/11/2025 13:38
Documentos internos analisados pela Reuters revelam que a Meta — empresa controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp — obteve cerca de 10% de sua receita anual, o equivalente a US$ 16 bilhões, com a veiculação de anúncios fraudulentos e produtos proibidos.
Segundo um relatório de dezembro de 2024, os usuários das plataformas da empresa são expostos, em média, a 15 bilhões de anúncios fraudulentos por dia, classificados como de “maior risco” por apresentarem sinais claros de fraude. Outros documentos apontam que a Meta arrecada aproximadamente US$ 7 bilhões por ano apenas com esse tipo de publicidade.
As informações mostram que a companhia tem dificuldade em conter a enxurrada de anúncios fraudulentos, que envolvem golpes financeiros, cassinos ilegais, produtos médicos proibidos e esquemas de investimento falsos. De acordo com os registros, a Meta só bloqueia anunciantes quando seus sistemas automatizados têm 95% de certeza de que se trata de fraude. Quando há dúvida, a empresa mantém o anunciante ativo, aplicando taxas mais altas como forma de “penalidade”.
Os documentos indicam ainda que o sistema de personalização de anúncios da empresa aumenta o risco para os usuários, pois tende a exibir mais conteúdos semelhantes àqueles em que o usuário já clicou, inclusive se forem fraudulentos.
Internamente, a Meta reconhece que suas plataformas representam um pilar da economia global de fraudes. Uma apresentação de maio de 2025 estimou que a empresa estava envolvida em um terço dos golpes bem-sucedidos nos Estados Unidos. Um relatório de abril de 2025 concluiu que “é mais fácil anunciar fraudes na Meta do que no Google”.
O porta-voz da Meta, Andy Stone, afirmou que os documentos “apresentam uma visão seletiva” e distorcem a política da empresa. Ele disse que a estimativa de 10,1% de receita proveniente de fraudes é “excessivamente inclusiva” e que o valor real seria menor. Segundo Stone, nos últimos 18 meses houve redução de 58% nas denúncias de anúncios fraudulentos e a remoção de mais de 134 milhões de conteúdos desse tipo.
Mesmo com as medidas anunciadas, a Meta reconhece internamente que penalidades regulatórias são inevitáveis e calcula multas de até US$ 1 bilhão por irregularidades. Ainda assim, documentos mostram que o valor é muito inferior ao lucro obtido com os anúncios fraudulentos.
A empresa também limitou quanto pode perder ao agir contra anunciantes suspeitos: um documento de fevereiro de 2025 mostra que a equipe responsável não podia tomar medidas que custassem mais de 0,15% da receita total — cerca de US$ 135 milhões.
A Meta enfrenta pressões de órgãos reguladores nos Estados Unidos e no Reino Unido, que investigam o envolvimento de suas plataformas em fraudes financeiras e golpes de pagamento. A SEC americana apura se a empresa lucra conscientemente com anúncios fraudulentos.
Embora a companhia afirme que combate os golpes, documentos internos revelam que muitas denúncias de usuários são ignoradas. Em 2023, a empresa teria rejeitado 96% das denúncias válidas de fraudes apresentadas em suas plataformas.
Os registros também descrevem estratégias internas como os chamados “lances de penalidade”, nos quais anunciantes suspeitos pagam mais caro para exibir seus anúncios — medida criada para reduzir fraudes, mas que ainda gera lucro à empresa.
Segundo especialistas ouvidos pela Reuters, os documentos expõem uma falta de supervisão regulatória no setor de publicidade digital. Para o ex-investigador da Meta, Sandeep Abraham, “se os órgãos reguladores não permitem que bancos lucrem com fraudes, não deveriam permitir que empresas de tecnologia o façam”. Com informações: IstoÉDinheiro
