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Vista aérea de Paraisópolis, em São Paulo: a favela cinza cercada pelo verde do Morumbi ilustra a desigualdade ambiental das grandes cidades latino-americanas. (Foto: Deutsche Welle)
Por: Editorial | 13/11/2025 07:18
Nas metrópoles latino-americanas, os ricos vivem cercados por árvores e parques, enquanto os pobres convivem com o cinza do concreto e o calor intenso. Mesmo quando há vegetação nas periferias, o acesso a esses espaços é limitado.
Um exemplo emblemático é a paisagem de Paraisópolis, a maior favela de São Paulo, cercada pelo verde do bairro do Morumbi, um dos mais arborizados e ricos da cidade. As imagens de contraste entre os dois locais, além de mostrarem desigualdade econômica, revelam outra face da exclusão urbana: a desigualdade ambiental.
Estudos apontam que viver em locais arborizados traz benefícios que vão desde a redução das temperaturas até a melhora da saúde mental. No entanto, a cobertura verde nas cidades da América Latina segue a lógica da renda — quanto mais rica a área, mais árvores e parques estão disponíveis.
Menos árvores, mais calor
Em Lima, por exemplo, os bairros de La Molina e San Isidro, ambos de alta renda, dobraram sua cobertura vegetal desde os anos 1980. Já nas regiões periféricas, como Carabayllo e San Martín de Porres, a vegetação foi substituída por construções precárias e desordenadas.
De acordo com o pesquisador peruano Dámaso Huaroto, da Universidade Científica do Sul, a diferença se reflete nas temperaturas: “Nos bairros com telhados de zinco e poucas áreas verdes, o calor é muito mais intenso. Isso gera estresse térmico e impacta diretamente a qualidade de vida.”
O verde inacessível
Em Santiago, no Chile, o acesso às áreas verdes também é desigual. Segundo o pesquisador Francisco de la Barrera, do Centro de Desenvolvimento Urbano Sustentável (Cedeus), os parques estão concentrados em regiões de alta renda, como o entorno do Cerro San Cristóbal. Nos bairros mais pobres, como San Ramón, os moradores precisam percorrer longas distâncias para chegar a um parque.
Na Cidade do México, levantamento da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) mostra que quanto maior o nível de vulnerabilidade social de uma região, menor é a quantidade de áreas verdes disponíveis.
O verde que não ajuda
Nem sempre a vegetação periférica traz benefícios diretos. Em São Paulo, bairros como Cidade Tiradentes e Parelheiros têm abundância de áreas verdes, mas de difícil acesso. “Moro no Morro Doce, cercada de parques e mata, mas as ruas são áridas e sem sombra. O verde está perto, mas não está onde a gente vive”, diz Luiza Fernanda Tamas, gestora ambiental formada pela USP.
Situação parecida ocorre em Bogotá, na Colômbia. O bairro de Usme, no extremo sul, tem ampla cobertura vegetal nas encostas e reservas próximas, mas as áreas residenciais seguem densas e desprovidas de árvores. “A vegetação está nos arredores, não nas ruas. As pessoas veem o verde, mas não o vivenciam”, explica a pesquisadora colombiana Jéssika Zambrano, doutoranda na Universidade Federal do Paraná.
Densidade e exclusão
Buenos Aires parece uma exceção, mas apenas na aparência. Estudo da fundação Bunge & Born mostrou que ricos e pobres vivem, em média, igualmente próximos de áreas verdes. A razão é simples: há poucos parques públicos disponíveis — e os espaços privados dos bairros de elite não são acessíveis à população.
Para o pesquisador Antonio Vázquez Brust, uma solução seria converter estacionamentos e áreas subutilizadas em praças e parques. Outras propostas incluem o plantio de espécies nativas e a inclusão de comunidades vulneráveis no planejamento urbano.
“Parte do problema é que acreditamos que a batalha está perdida, mas o asfalto pode ser removido”, diz o ecologista Luís Zambrano, da UNAM. “Pode custar caro e levar tempo, mas é melhor do que continuar vivendo em cidades sufocadas.” Com informações: IstoÉDinheiro
