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Donald Trump e Nicolás Maduro em imagens de arquivo usadas para ilustrar o impasse entre os dois países. (Foto: AFP)
Por: Editorial | 18/11/2025 07:25
A declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que poderia enviar tropas terrestres à Venezuela intensificou a tensão diplomática e militar na região do Caribe. Entretanto, apesar da retórica de Washington, especialistas consultados apontam que uma operação terrestre em território venezuelano exigiria um nível de mobilização que hoje simplesmente não existe.
A atual movimentação militar dos Estados Unidos no Caribe começou em agosto, oficialmente sob o pretexto de combater o tráfico internacional de drogas. A operação ganhou amplitude quando a Casa Branca dobrou a recompensa pela captura de Nicolás Maduro, acusado de liderar o Cartel de los Soles. A partir disso, a presença militar americana se expandiu de forma inédita em décadas, com destróieres, aeronaves de combate e o porta-aviões USS Gerald Ford posicionados estrategicamente na região, resultando inclusive em bombardeios a embarcações suspeitas que deixaram dezenas de mortos.
Embora esse cenário seja de forte pressão militar, analistas afirmam que o aparato atual não é suficiente para sustentar uma invasão terrestre de grande escala. O cientista político Maurício Santoro afirma que, apesar das declarações de Trump, não há tropas em número adequado nem estrutura logística capaz de manter uma operação prolongada dentro da Venezuela.
O país possui características geográficas que ampliam o desafio. São 916.445 km², grande parte coberta por florestas densas e áreas alagadiças, além de cordilheiras como os Andes e a Cordilheira de Mérida, que formam barreiras naturais de difícil travessia. Caracas está situada a mais de 900 metros de altitude, o que torna mais complexo o acesso a regiões estratégicas. Uma força invasora teria de lidar não apenas com o terreno hostil, mas também com a possibilidade de que tropas leais a Maduro se deslocassem para áreas isoladas, prolongando a resistência e exigindo manutenção de tropas por tempo indeterminado.
Outro ponto crítico é a necessidade de ocupação urbana. Grandes cidades como Caracas, que possui mais de 2 milhões de habitantes, precisariam ser controladas para garantir ordem e estabilidade, o que demanda um efetivo numeroso e suprimentos constantes. O CSIS estima que, para uma invasão mínima, seriam necessários ao menos 50 mil soldados, podendo chegar a 150 mil para uma operação abrangente. Hoje, aproximadamente 13 mil militares americanos estão mobilizados no Caribe, número considerado insuficiente.
A comparação histórica reforça a disparidade. A invasão do Iraque mobilizou cerca de 100 mil soldados e, ainda assim, enfrentou dificuldades severas. Já a invasão do Panamá, em 1989, envolveu aproximadamente 25 mil militares para um território que representa menos de 10 por cento da área venezuelana.
Diante desses fatores, especialistas consideram mais provável que os Estados Unidos optem por ações aéreas, bombardeios de precisão ou ocupação de pontos estratégicos como ilhas e portos próximos ao litoral venezuelano. Essa expectativa se intensificou com a chegada do USS Gerald Ford, o maior porta-aviões do mundo, equipado com até 90 aeronaves e acompanhado por destróieres e helicópteros. Trata-se da maior concentração de poder aéreo americano no Caribe desde a década de 1960.
Apesar do clima de tensão, Trump afirmou que não descarta dialogar com Maduro. O presidente venezuelano respondeu dizendo estar disposto a um encontro cara a cara. Para Maurício Santoro, a solução considerada ideal pelos Estados Unidos seria uma transição negociada que resultasse na saída de Maduro e de sua cúpula, possivelmente com exílio em países aliados como Cuba ou Rússia. Entretanto, o professor lembra que Trump enfrenta pressões internas para adotar medidas duras contra o regime venezuelano, o que reduz o espaço político para recuos.
No cenário atual, embora uma operação terrestre massiva seja improvável, a combinação de pressão militar intensa, possibilidade de ataques aéreos e abertura para diálogo mantém a situação instável e sujeita a rápida evolução. Com informações: g1
