O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (29) que o pacote de cortes de gastos anunciado na última quarta-feira (27) "não é uma bala de prata" para resolver os desafios econômicos do país. O conjunto de medidas, que prevê economizar R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026, pode necessitar de revisões. "Pode ser que daqui a três meses esteja debruçado sobre as planilhas de gastos de novo", declarou Haddad, durante um evento com dirigentes bancários da Febraban.
Entre as mudanças anunciadas, estão ajustes no salário-mínimo, aposentadoria de militares, programas sociais e emendas parlamentares. No Benefício de Prestação Continuada (BPC), as regras serão endurecidas, obrigando a atualização de cadastros desatualizados há mais de dois anos. Segundo Haddad, um terço dos beneficiários não tem o tipo de deficiência devidamente registrado. "Não se sabe o que essas pessoas têm para ter acesso ao BPC", destacou o ministro.
Especialistas do mercado financeiro avaliam que as medidas são um passo na direção certa, mas podem não ser suficientes para enquadrar as despesas do país no arcabouço fiscal, que limita os gastos da União. O ceticismo cresceu com o anúncio do projeto de lei que isenta pessoas com rendimentos de até R$ 5 mil do pagamento do imposto de renda. Embora o governo espere compensar o impacto de R$ 35 bilhões com taxação de até 10% para rendimentos acima de R$ 50 mil, analistas consideram a proposta insuficiente.
A incerteza gerou forte repercussão no mercado financeiro. Na última quinta-feira (28), o dólar alcançou, pela primeira vez na história, a marca de R$ 6, enquanto ativos brasileiros sofreram uma desvalorização significativa. O cenário reflete as dúvidas sobre a eficácia das medidas para equilibrar as contas públicas a médio e longo prazo.
Haddad reiterou, no entanto, a disposição do governo em revisar as estratégias se necessário. "Se tiver algum problema de cálculo, vamos voltar para o Congresso, para o presidente da República, com a demanda que acharmos correta", afirmou o ministro, reforçando a prioridade de buscar soluções dentro das possibilidades fiscais. (Informações G1)