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Gail acreditava que havia morrido, passado nove meses no céu e voltado para a Terra (Foto: Arquivo Pessoal)
Por: Editorial | 19/11/2025 07:56
Gail Gallant cresceu acreditando que era fruto de um milagre: segundo a mãe, ela havia ressuscitado da irmã morta em um acidente de carro. As duas tinham o mesmo nome, reforçando a sensação de continuidade.
Em julho de 1955, a família Gallant sofreu um acidente de carro no Canadá. A filha mais nova, Gail, com apenas cinco meses, faleceu semanas depois no hospital. Devastada, Maria Gallant ficou convencida de que outra gravidez seria uma forma de Deus trazer sua filha de volta. Quando nasceu a segunda Gail, praticamente idêntica à anterior, a mãe acreditou estar diante de um milagre.
"Ela não queria ter outro filho, queria aquele bebê de volta. Acreditava que Gail estava literalmente na sua barriga, crescendo novamente", relatou Gail. Assim, a menina recebeu o mesmo nome da irmã falecida. Aos quatro anos, Gail sentiu que havia "renascido" e inicialmente se orgulhou de ser a "criança milagrosa".
Com o tempo, a pressão de corresponder a esse papel tornou-se pesada. Ela relatou medo de não cumprir um propósito divino e preocupações excessivas sobre expectativas irreais, chegando a imaginar missões mirabolantes, como converter a Rússia durante a Guerra Fria.
Por volta dos 12 anos, Gail começou a perceber a irmã como um fantasma que habitava uma dimensão paralela, intensificando a ansiedade e o distanciamento da mãe. Na adolescência, ela questionou o conceito de milagre e se voltou para a ideia de reencarnação, buscando aliviar a culpa e a pressão de ser especial.
Na universidade, ao estudar teologia e filosofia da religião, Gail analisou a Bíblia e questionou os relatos de milagres, o que a ajudou a reconstruir sua visão sobre sua própria história. Ela passou a se sentir mais livre, com menos culpa e mais foco em seu desempenho acadêmico, buscando aprovação de outra forma.
O ponto de virada ocorreu após a morte da mãe, quando Gail descobriu que possuía identidade própria, diferente da irmã falecida. "Era como se fôssemos gêmeas siamesas, separadas pela primeira vez. Seríamos genuinamente duas pessoas independentes", relatou. A partir desse momento, ela passou a se ver como uma pessoa única, sem a obrigação de corresponder a um papel milagroso.
Hoje, Gail se identifica como uma ateia supersticiosa, autora de histórias sobrenaturais, e celebra a liberdade de ser uma pessoa comum. Ela escreveu suas memórias no livro The Changeling (Criança Trocada). Com informações: g1
