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Abstinência de álcool cresce no Brasil, mas MS tem altos índices de internações por consumo abusivo


Mesmo com redução nacional no consumo, Mato Grosso do Sul registra terceira maior taxa de hospitalizações relacionadas ao álcool.
Abstinência cresce no país enquanto internações por álcool seguem elevadas em Mato Grosso do Sul (Foto: Divulgação/Agência Brasil). Por: Editorial | 21/11/2025 15:50

Abstinência recorde no Brasil contrasta com um cenário preocupante em Mato Grosso do Sul. Em 2024, o Estado registrou a terceira maior taxa de internações por uso abusivo de álcool no país, com 256,3 hospitalizações a cada 100 mil habitantes, segundo dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA). Apenas Paraná e Espírito Santo apresentaram índices superiores.

Enquanto o Brasil comemora o maior nível de abstinência já registrado – 64% dos brasileiros declararam não ter consumido álcool em 2025, ante 55% em 2023 –, casos graves continuam ocorrendo, como o de Matheus Santana Falcão, de 21 anos, que morreu em Campo Grande após grave intoxicação alcoólica.

A pesquisa do CISA, com apoio do Ipec e da Ipsos, mostra mudança de comportamento principalmente entre jovens. Na faixa de 18 a 24 anos, a abstinência passou de 46% para 64%. Entre 25 e 34 anos, o índice subiu de 47% para 61%. Ao mesmo tempo, houve queda no consumo frequente, com muitos brasileiros reduzindo a ingestão de álcool para uma vez por mês ou menos.

Apesar disso, 15% da população admite beber de forma excessiva e, entre esses, 82% acreditam consumir moderadamente. Para o psiquiatra e presidente do CISA, Arthur Guerra, essa percepção distorcida indica risco: “Ser mais tolerante ao álcool, ou seja, beber muito e não sentir os efeitos, não significa estar protegido. Pelo contrário, é um sinal de alerta.”

Os dados nacionais de internação reforçam o problema. Em 2024, o Brasil registrou 418.467 hospitalizações relacionadas ao álcool, um aumento de 24,2% desde 2010, atingindo média nacional de 196,8 internações por 100 mil habitantes, bem abaixo do índice de Mato Grosso do Sul.

Historicamente, o consumo de álcool no Brasil carrega contradições culturais e econômicas. A cachaça, por exemplo, esteve ligada a práticas coloniais e à dinâmica social masculina. No século XX, a expansão do mercado publicitário impulsionou o consumo, especialmente de cerveja, reforçando associações de lazer e status. Para a socióloga Mariana Thibes, coordenadora do CISA, embora os jovens bebam menos, os danos continuam elevados, e o consumo abusivo permanece frequente.

Entre adolescentes, o cenário também exige atenção. O 3º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD III) mostra que, apesar da queda no número de jovens que já beberam, o consumo pesado aumentou de 28,8% para 34,4% entre 2012 e 2023. As meninas aparecem mais vulneráveis: 21,6% relataram ter bebido no último ano, contra 16,8% dos meninos. A prevalência de Transtorno por Uso de Álcool nessa faixa etária subiu para 5,7%.

Em Campo Grande, o consumo de álcool cresceu 22% entre 2006 e 2023, conforme estudo da Universidade Federal de Minas Gerais. Para muitas comunidades, o álcool funciona como válvula de escape diante da exclusão social e de realidades marcadas por sofrimento e desigualdade.

Especialistas apontam que o país precisa de políticas públicas mais amplas e efetivas, com investimento em educação, campanhas de conscientização, formação de profissionais e apoio comunitário. Também defendem maior rigor na publicidade de bebidas alcoólicas, especialmente aquelas voltadas aos jovens.

A queda no consumo entre parte da população representa um avanço, mas os altos índices de internação e mortalidade no Mato Grosso do Sul mostram que o enfrentamento dos danos associados ao álcool exige ação contínua e integrada. Como determina a Constituição de 1988, a saúde é direito de todos e dever do Estado, o que inclui medidas para proteger a população dos impactos físicos, mentais e sociais do consumo abusivo de álcool. Com informações:Semana ON




Diário do Interior MS
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